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Cida Stier

Ouvir a própria voz costuma ser desconfortável para a maioria. São raras aquelas pessoas que gostam de se ouvir.

Depois que lancei o vídeo com a sugestão de aproveitar o Whatsapp, com a ideia de incentivar as pessoas a mandar mensagens e criar o hábito de perceber a forma de falar com diferentes interlocutores, recebi muitas mensagens com o seguinte conteúdo:

“Eu detesto ouvir a minha voz, ela é horrível”.

Muitas pessoas pensam assim, apesar de terem ótimas vozes. Apenas não sabem ouvir-se e, por isso, não reconhecem o poder e o impacto que a voz exerce na comunicação, o tempo todo. Usar a voz de forma correta e agradável começa por ouvi-la, conhecê-la em diferentes situações.

Não se deve ouvir a própria voz com o intuito de compará-la com a de alguém. A voz natural é produzida sem esforço. Soa de modo agradável. Além das características individuais, da genética, o modo de usar a voz está muito relacionado com a personalidade, com o temperamento, com o estado de espírito. Por essa razão, por exemplo, é que nem todos que desejam ser cantores líricos, com qualidade vocal excepcional, terão vozes para tanto, mas é perfeitamente possível explorar o potencial da própria voz e analisar quais os fatores que interferem no seu melhor uso. Afinal, cada voz é única no mundo e vale a pena tratá-la com carinho e atenção.

“Ter voz ativa” é uma expressão usada quando se quer dizer “ter o direito de falar ou de expressar a própria opinião”. É pelo som das nossas vozes que confirmamos ao mundo quem somos e o que pensamos. Podemos fazer isso melhor quando reconhecemos as características positivas e as que precisam ser aperfeiçoadas. Podemos ter nossas vozes como companheiras e representar as nossas próprias marcas pessoais e profissionais. Se você alguma vez recebeu um feedback negativo sobre a forma como se expressa, vale a pena dar uma olhada neste post

CONHEÇA  HISTÓRIA DE MARGUERITE DUMONT

 

Recentemente, assisti ao filme Marguerite (2015), disponível no Netflix, baseado em uma história real. Tem tudo a ver com essa diferença entre a voz que escutamos enquanto falamos e a voz que escutamos após ela ser gravada.

Nos anos 1920, a rica Marguerite Dumont (interpretada pela atriz Catherine Frot), apaixonada por música e pela arte de cantar, tem absoluta certeza de que possui uma belíssima voz. Para mostrar seu talento, organiza vários concertos privados em sua mansão. Em virtude da sua generosidade e pelas festas luxuosas, após realizar seus concertos, Marguerite sempre é aplaudida pelos convidados. Porém não faz ideia de que todos acham a voz dela péssima, desafinada e sem controle. Ela não tinha consciência disso. Não prestava atenção na sua voz, apenas se considerava cantora.

Um dia, depois de muitos concertos privados que somente ela considerava “exitosos”, a artista, até então amadora, decide apresentar-se em público. O marido, sabendo da reação das pessoas que a escutam, fica assustado e, em segredo, teme a reação negativa.  Ele contrata um professor de canto que tenta prepará-la para a apresentação de sua vida, o que torna a história ainda mais interessante.

O filme mostra essa hesitação do marido, do professor e dos amigos sobre contar ou não a verdadeira opinião das pessoas sobre a voz de Marguerite. Em paralelo, mostra como as pessoas estão perplexas e constrangidas por Marguerite não perceber o quanto sua voz é inadequada.

Essa personagem realmente existiu, mas com outro nome e data de nascimento. Marguerite Dumont, a personagem fictícia, foi inspirada na milionária americana Florence Foster Jenkinsem (1868-1944), herdeira de banqueiros e conhecida como “A Diva do Grito”. Os recitais anuais que protagonizava no Hotel Ritz tinham lotação máxima, com repertório caprichado e ousado, baseado em Mozart, Verdi, Strauss. A trajetória da cantora é a principal atração de “Souvenir”, espetáculo que estreou no Teatro Lyceum, na Broadway. No Brasil, em 2009, a cantora foi interpretada por Marília Pera, no espetáculo “Gloriosa”. Em 2016, a atriz Meryl Streep encarnou a cantora nos cinemas, com o filme “Florence Foster Jenkins”. O filme retrata a sua trajetória de “insucesso” na carreira musical.

POR QUE NOSSA VOZ GRAVADA É DIFERENTE?

Quando falamos, ouvimos a nossa voz e sentimos a sua vibração pela ressonância interna. Desse modo, ela soa nos um pouco mais grave. Quando ouvimos a voz gravada, já não temos como sentir a ressonância interna, mas apenas a audição. Ela passa a ser percebida por nós como mais aguda. Por esse motivo, causa tanto desconforto. Mas, ao ouvirmos com muita atenção as nossas vozes, tanto em tempo real quanto gravadas, somos capazes de perceber o que está em harmonia e o que precisa melhorar. E é sempre bom poder admitir que é possível melhorar, sem fazer disso um problema.

A história de Marguerite/Florence é comovente. Por não se conhecer, não se permitiu crescer, superar seus limites ou redimensionar seus sonhos. Não tenho dúvidas de que, se ela tivesse, naquela época, acesso a gravadores ou pudesse tão facilmente enviar mensagens de áudio no WhatsApp, como nós podemos fazer hoje, e ouvi-las logo em seguida, tudo seria diferente. Ela partiria em busca de sua melhor voz!

E você? Já está fazendo uso da tecnologia a favor de seu desenvolvimento?

Assim, fica mais fácil ouvir o que sua voz tem – de bom – para lhe dizer!

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